SERVA DO SENHOR

SERVA DO SENHOR
"Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra"(Lc 1,38)

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

TER menos, para SER mais

Em tempos de pós-modernidade, quando muitas vezes se confunde o que se É com a quantidade ou com o preço do que se POSSUI, penso ser uma graça experimentar e, melhor, optar por uma vida sem luxos, sem exageros e assim poder verificar quem realmente eu SOU.
A POBREZA não é somente deixar de ter o desnecessário. Ela começa dentro de mim, no meu íntimo. "Ela começa com uma abertura honesta diante dos apelos de Deus a meu coração." (1)
Ao deixar minha estabilidade, minha rotina, minhas coisas, meu trabalho, meu salário, para viver em um outro país, dependendo financeiramente de uma Instituição e tendo que recomeçar a todo instante (aprendendo como me expressar em outro idioma, por onde andar, como me vestir...) deixo o orgulho, a vaidade, a autossuficiência de lado e tento conhecer quem eu SOU realmente.
Na sociedade atual, onde se mede o que se É pelo que se TEM, geralmente fica difícil entender quais as reais necessidades de cada pessoa.
Lembro como vivi minha infância e minha adolescência: eu tinha o necessário, nada sobrava, a não ser o amor, a amizade, a simplicidade, a fé em Deus, valores tão importantes e deixados, muitas vezes, em segundo plano no mundo atual.
A sociedade de consumo está aí, faz parte da realidade. Nela me são oferecidos muitos e muitos recursos, na sua maioria supérfluos e, minunciosamente planejados para que eu pense que são necessários ou mesmo indispensáveis.
Bem-aventurada é a pessoa que consegue discernir do que realmente necessita para viver. Só assim se consegue chegar à essência interior e viver mais intensamente a confiança em Deus. 
Nesse "tempo de graça" que vivo, aprendo a identificar e a vivenciar dois tipos de pobreza: a material e a interior (ou espiritual).
Agora começo a entender porque Cristo inicia as Bem-Aventuranças dizendo que "bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus." (2)
A verdadeira pobreza começa dentro de mim, só depois é que se expressa na pobreza material.
Penso que não adianta dizer que vivo com poucos recursos materiais, se continuo "cheia de mim mesma", fechada nos mesmos valores, sem abertura para novas realidades, novas pessoas, novos desafios.
Quero deixar de pensar muito em mim. Quero seguir Jesus que, sendo Deus, abriu mão de "seguranças" para se encarnar, humanizar-se, experimentar na carne e no espírito as maravilhas e as dores de SER humano. Quanta leveza, quanto amor, quanta pobreza...
Quero andar leve. Leve de mim mesma. De minhas teimosias, de minhas teorias, de meus "pré-conceitos", do excesso de trabalho, de dependências sentimentais. 
Quero andar leve para ajudar as outras pessoas. Até porque se Cireneu já tivesse um peso sobre as costas como teria aliviado o peso que colocaram sobre Jesus?

Cintia Assunção
Noviça sgm

Montreal, 15 de novembro de 2013

(1) Kearns, Lourenço. Teologia do voto de pobreza, Editora Santuário, Aparecida, 2005, p 89.
(2) Mt 5,3

3 comentários:

  1. Maravilhoso texto, bem reflexivo! Deixemos nossa a alma livre e sem peso, para que ao longo da caminhada ela se enriqueça do que é mais essencial, o amor de Cristo, pois torna-se pobre para acolher o novo é a mais pura forma de reconhecer a grandeza do Criador! Que o nosso agir seja movido literalmente pela vontade de servir e de amar! Teu texto é inspirador! Parabéns mana!

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  2. Que texto perfeito! Excelente reflexão!

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  3. Lindo texto, Tita! Sábias reflexões!

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